Por Mayanna Estevanim, pesquisadora do COM+
O BBB permanece em pauta e a cada edição apresenta novas nuances de um programa que vai muito além do mero entretenimento. O formato motiva debates de várias ordens. Aqui mesmo no Com+ temos discutido alguns deles como o cancelamento, com o texto da pesquisadora Carol Terra Cancelando o cancelamento: o bom mocismo e monetização da empatia; a autenticidade que foi a temática abordada pela pesquisadora Issaaf Karhawi em Big Brother Brasil e o encontro com a “autenticidade extrema”. O pesquisador João Francisco Raposo falou sobre o julgamento no digital e a saúde mental: É possível cancelar o cancelamento?.
Audiência, produtos midiáticos, convergência entre mídias, apropriações do público e até a língua portuguesa ganham desdobramentos com o olhar dos estudos acadêmicos. No Jornal da USP os professores Henrique Braga, doutor em Filologia e Língua Portuguesa pela FFLCH-USP, e Marcelo Módolo, professor da FFLCH-USP abordaram o que é o basculho. O termo foi utilizado pelo pernambucano Gilberto no BBB 21 durante uma discussão com Pocah, após um Jogo da Discórdia. “Eu não saí do lixo pra perder pra basculho!”, disse ele. Além das descrições presentes nos dicionários os sentidos do termo envolvem o próprio lixo ou pessoa baixa, de pouco valor. Para os pesquisadores, “a digressão redacional do verbete, típica dos dicionários antigos, mostra-se cruel aos olhos de hoje: o verbete permite inferir que mulheres de classe social desfavorecida eram não só designadas para tarefas domésticas aviltantes, mas também desumanizadas ao serem confundidas com seu objeto de trabalho”.
Para Marcello Rollemberg, diretor de redação no Jornal da USP, a “casa que confina duas dezenas de pessoas, procura emular as relações humanas como se fosse tudo normal, mas não é”. O BBB é um reality show com uma realidade bem distante de quem o assiste, mas qual é a motivação que faz com que um programa tenha 285 milhões de votos, que a brother Karol Conká, seja eliminada com 99,17% dos votos (um recorde na história do programa)? No texto O estrabismo do Grande Irmão, ele fala que “a perplexidade com discussões sociais sem profundidade e uma rejeição recorde fazem do “BBB 21” um espetáculo que vai além das quatro paredes da casa”.
O mapeamento das temáticas e as discussões nas redes sociais são bons e complexos objetos de estudo. “Gostando ou não, o formato é bem-sucedido e historicamente motiva debates importantes, que transcendem o escopo do reality show em si”, destacou a mestre em comunicação Gabriela Habckost, na matéria do jornal Metrópole BBB vira objeto de estudo e discussão nas universidades do país.
São muitas as indicações e olhares acadêmicos ao longo das edições do BBB, temas de teses como a do professor Bruno Campanella, que resultou no livro Os Olhos do Grande Irmão – Uma Etnografia dos Fãs do Big Brother Brasil, lançado em 2012. Ficam os links e as dicas de leitura para você que tem interesse em aprofundar as discussões sobre a “casa mais vigiada do Brasil”.