De 02 a 04 de dezembro aconteceu o Web Summit 2020, um dos maiores palcos de discussão da inovação, tecnologia e empreendedorismo do mundo. O evento nasceu em Dublin, na Irlanda, mas a partir de 2016 migrou para Lisboa, em Portugal. Este ano, por conta do Covid, o evento foi 100% online. Para o público cômodas salas virtuais que funcionaram bem para acompanhar centenas de palestrantes do mundo todo, como Tim Berners-Lee (inventor da World Wide Web), Eric Yuan (fundador do Zoom), Tedros Adhanom Ghebreyesus (diretor-geral da Organização Mundial de Saúde), Serena Williams (tenista), Jimmy Wales (fundador da Wikipedia), Brad Smith (presidente da Microsoft) e Laing Hua (Chairman da Huaweie). Para as startups – ansiosas por fechar negócios – a edição não agradou tanto. Os números do evento seguem impactantes: 1.137 oradores divididos em 637 sessões, 2007 startups e 1145 investidores. Sobre a meta de 50% de mulheres, quase batida – dentre os participantes 45,8% de mulheres.
Um dos painéis mais comentados teve a presença da ativista Malala Yousafzai, que participou de uma mesa com a Lisa Jackson (vice-presidente da Apple para o ambiente, política e iniciativas sociais). Em pauta como a desigualdade e a injustiça do sistema afetam as alterações climáticas. Malala exemplificou essa relação falando dos períodos de seca no Paquistão. As crianças deixam de estudar para ajudar a família a caminhar por quilômetros em busca de água. “Sim, as mudanças climáticas impactam a educação diretamente”, ressalta. O efeito inverso também ocorre, ou seja, quando a educação é assegurada. “Quando as mulheres têm informação, têm menos filhos e são mais independentes economicamente e mais preparadas e protegidas para lidar com as mudanças climáticas”, diz. No próximo ano a Fundação Malala publicará uma pesquisa sobre a ligação entre educação, desertificação e mudanças climáticas, na esperança que sirva como base para a revisão de políticas públicas. Malala fecha sua fala de modo categórico: “Dêem espaço às mulheres e elas mudarão o mundo”. E Lisa, sobre o aspecto de marca, reforçou um argumento que repete em algumas entrevistas: que a escolha entre cuidar do planeta ou ter uma boa estratégia de negócios é uma falácia. Não existe estratégia de negócio eficaz ignorando o planeta.
Outros assuntos muito abordados no Web Summit foram como a desinformação afetou as pessoas durante a pandemia e as polêmicas condutas negacionistas de governos. As dezenas de jornalistas que passaram pelos palcos virtuais debateram o importante papel desempenhado pelos meios de comunicação, o que foi aprendido nessa jornada e o longo o caminho que ainda existe para jornalistas extraírem o máximo da tecnologia no seu fazer diário de informar.
Se a pandemia foi desafiadora para o Jornalismo, não foi diferente para as marcas. Alguns cases foram apresentados ao longo dos 3 dias de evento. Um dos destaques foi o painel com o CEO da Levi’s, Chip Bergh. Segundo ele, o período está sendo um teste de fogo para a transformação digital da empresa. O desenvolvimento do e-commerce, das soluções digitais das lojas físicas e das ferramentas digitais que ajudam a produção a ser mais sustentável precisou ser acelerado e repensado.
Modulação de dados e privacidade estiveram no centro do debate de muitas falas, sobretudo das lideradas por profissionais que atuam com empresas de tecnologias. Discussões sobre Inteligência Artificial (AI), sobretudo quando usada pelos governos, estiveram presentes em várias sessões. Alguns dos palestrantes se mostraram preocupados em se distanciar de uma atuação envolvendo segurança pública, vigilância, governos ou políticos. A cofundadora da Affectiva, startup pioneira em explorar emoções por meio da Inteligência Artificial, Rana El Kalioub, afirmou que a nova geração de lideranças em IA tem como princípio o compromisso com a justiça social. O público, desta vez com poder de argumentar real time via chat, não se mostrou muito confiante com esse compromisso, apesar de demostrar inegável interesse no potencial da IA.
O palco “Sociedade” seguiu sendo uma das arenas que gerou maior audiência. Por lá, debate sobre plataformização, novas relações de trabalho, home office, processos criativos beneficiados pela tecnologia e, com um peso especial esse ano, os desafios da educação frente a essa nova forma dos estudantes se relacionarem com o mundo. No caso do Ensino Fundamental um painel teve um debate intenso sobre encontrar o equilíbrio da postura autodidata potencializada pela tecnologia frente as necessidades de formação que ficam fragilizadas quando privadas da sala de aula presencial e de algumas práticas coletivas.
A urgência de empresas mais diversas e a intensificação da violência em muitas instâncias também estiveram na agenda, com um peso maior do que em 2018, mas ainda aquém do que a pauta exige.
Por fim, vale lembrar que o evento ganhará ramificações em 2022. Uma edição sul-americana que, segundo os organizadores do evento, será em Porto Alegre ou no Rio de Janeiro. Além do Brasil, Japão também vai sediar uma versão do evento – Web Summit Tokyo, também daqui 2 anos.